terça-feira, 20 de março de 2012

Tudo isso por conta da falta de espaço nos ônibus de Fortaleza



O sujeito desce do Grande Circular injuriado, louco para compartilhar com alguém o que havia acontecido dentro do lotação. Então aproximou-se de alguns estudantes que estavam papeando na calçada e liberou seus bufos e protestos. 

“Como é que pode, macho? Chego no ônibus aí lotado e tal, sem espaço nem pra se coçar, e vem uma dona dizer que eu tava roçando nela! Tinha que descer nessa parada, ora mais. Só vai empurrando pra poder passar, num tem como não encostar”, disse, aos gritos, o acusado de abuso dentro do transporte público. “Ainda mais uma bicha feia daquela, parece um peixe-boi”, completou. 

Ele tinha embarcado no terminal, junto com o mar de gente que sai feito roda punk, destemperado, empurrando estresse e odores para dentro da carcaça azul. Durante o trajeto até seu ponto de chegada, mais passageiros viam à bordo, complicando ainda mais a situação de quem quer sair do recinto dos infernos. 

Quando chegou a hora de dar o sinal, não tinha jeito: tinha que enfrentar o acocho. Pediu licença... para as primeiras três pessoas. Depois foi na base da marra mesmo. Com o caderno rente ao peito, saiu se exprimindo para atravessar pelas brechas a multidão compactada. 

Estava saindo do sufoco, suado e com falta de ar. Atravessando a última linha do batalhão zumbi das 18h., encostou levemente na parte traseira deformada de uma mulher, que cantava toda animada o hit de forró da semana. A irritação foi imediata, a alegria da música foi embora e o sangue faltou escorrer pelos olhos da passageira: "Tenha vergoooonha, seu cabra véi safado! Fica pinando na gente". 

O rapaz pensou em respondê-la, mas a vegonha, provocada pelos olhares (mais de gozação do que de reprimenda) dos que estavam colados à moça, foi maior. Desceu, convicto de que nem de longe era um maníaco, a ponto de abusar daquela mulher desprovida de qualquer encantamento naquela hora cão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário