terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Rodoviária dos Pobres


Durante mais de 20 anos, um ponto localizado no bairro de Antônio Bezerra ficou conhecido informalmente pelos fortalezenses como "Rodoviária dos Pobres". O local foi ponto de embarque para os viajantes que tinha como destino a zona norte do Ceará e a outros estados como o Piauí e Maranhão, pois a avenida Mister Hull era a principal saída para a BR-222.

A "Rodoviária dos Pobres" passou a designar-se como tal em 1974, quando Antônio Alves de Souza, natural de Itapipoca, trouxe sua banca do antigo Hotel dos Boiadeiros, nas proximidades dos trilhos da Rffsa, para a sombra de um pé de timbaúba, quase na esquina da avenida Mister Hull com a rua Padre Perdigão Sampaio. Antônio Alves, agente comissionista, vendia passagens da Viação Horizonte, pelas quais ganhava cinco por cento.

E tudo se dava por que era bem mais conveniente tomar os ônibus que iam para a zona norte no caminho, que ter de ir ao terminal João Tomé e depois voltar. A intensa procura por passagens fez com que outras empresas passassem também a encostar seus carros no local, uma vez já tendo apanhado os primeiros passageiros na rodoviária "oficial".

Diversas outras empresas passaram a ter boxes na "Rodoviária dos Pobres",  como a Ipú Brasília, Expresso de Luxo, Brasileiro, Timbira, Serrano, Redenção, dentre outras. A principio, os ônibus estacionavam em quaisquer dos quadrantes do "terminal" (na Avenida, na Rua ou no posto de gasolina ao lado), e a demora era significativa. As passagens eram tiradas pelos agentes, que combinavam esforços para conter a multidão no empurra-empurra para entrar nos ônibus.

“Enquanto aguarda seus ônibus, o povo procura escapar do sol causticante do meio-dia, escorado nas paredes dos boxes, ou mesmo dentro deles. Poucos cabem na sombra da banquinha de revistas e na lanchonete de alumínio, ambas na esquina. Outro tanto é concentrado na mangueira do posto Atlantic, ou em seu restaurante. A falta de um sistema de auto-falantes, preocupa a multidão que não tem idéia exata dos horários de partida dos ônibus; daí as sucessivas indagações sobre embarques, de deixar qualquer agente nervoso. Quanto às bagagens, são as mais variadas, desde as malas de luxo e sacolas de mão...” ( Jornal O Povo 17/01/1988)

Nos primeiros anos, a situação era ainda mais complicada, pois sem nenhum abrigo, os passageiros aguardavam o ônibus aproveitando a sombra das bancas de fruta, no fim da linha de Antônio Bezerra. A espera se tornava muito desconfortável, não apenas por causa do sol, mas ainda em face da poeira conseqüência das obras de alargamento da Av. Mister Hull.

O movimento na rodoviária só crescia, e os problemas também, já década de 1980, tomar um ônibus na rodoviária dos pobres tornou-se um grande desafio, num local totalmente desprovido de condições para quem aguardava um transporte.

O fator segurança também preocupava os passageiros, que não escapavam dos furtos nem no interior do ônibus, até falsos vendedores ambulantes se aproveitavam para agir enquanto ofereciam sua mercadoria.

O nome que lhe foi atribuído identificava-se muito com seu aspecto, que não tinha sanitários, posto telefônico, cabine policial e um local que os protegiam contra o sol e a chuva. Até a higienização do local foi por bastante tempo esquecida.

Uma cena bastante comum daquele terminal improvisado, acontecia quando o ônibus mal parava e os vendedores corriam levantando seus “taboleiros” à altura das janelas do veículo, oferecendo água, frutas, bolos, doces e “merenda” em geral.

Em 1993, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) proibiu a parada de ônibus interestaduais naquele terminal, porém a vontade dos passageiros era contrária, pois achavam muito mais cômodo embarcar próximo de suas casas. Vendedores ambulantes, passageiros e agentes de viagem da Rodoviária dos Pobres, elaboraram um abaixo assinado contra a medida do DNER. Até as empresas não concordaram com a decisão, ignorando o aviso e continuando a realizar embarques na rua.

A falta de segurança e as precárias condições da Rodoviária dos Pobres foram os motivos principais para que o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem proibisse a parada de ônibus interestaduais no local. Os embarques continuaram sendo realizados até o ano 2000.

O novo terminal


O Governo do Estado e a Socicam, inauguraram no dia 11 de dezembro de 2000, na rua Hipólito Pamplona, o Terminal Rodoviário de Antônio Bezerra, que substituiu a velha “Rodoviária dos Pobres”. Construído pela Socicam, o novo terminal foi inaugurado seis meses antes da data prevista por contrato, uma conquista da população do bairro de Antônio Bezerra.

Com 12 plataformas, 19 bilheterias e 3 lojas de apoio (lanchonete, revistaria, charutaria, churros e presentes), além de posto da Polícia Militar, Juizado de Menores e ANTT, o terminal está instalado em terreno de 11 mil metros quadrados, o que permite sua ampliação de acordo com o crescimento dos embarques.

A solenidade de inauguração contou com a presença do Governador do Ceará, Sr. Tasso Jereissati, que viu a primeira partida simbólica de ônibus a partir da plataforma 8.

Um show pirotécnico com fogos de artifício deu início às festividades populares que contou ainda com uma banda de forró tocando para quase 1000 pessoas até pouco antes do início das operações.

Mas havia um problema, a estrutura do novo terminal possuiria todos os itens para deixar os usuários satisfeitos, não fosse a ausência de uma área para desembarque. No momento da descida, a única opção é deixar o transporte em um ponto da Avenida Mister Hull, a cerca de 300m do terminal e do outro lado da via.

A ausência de retorno próximo, na Avenida Mister Hull, é o motivo alegado para não haver área de desembarque no Terminal Rodoviário de Antônio Bezerra. A justificativa é da Sociedade Civil Campineira (Socicam), empresa administradora do local. Até hoje, ao longo de uma década de serviço, nunca foi viabilizado um desembarque.

Uma parada de embarque irregular instalada poucos meses após a inauguração do novo terminal, tornou-se numa espécie de “nova rodoviária dos pobres”. Localizada a menos de um quilometro da antiga, sob o viaduto da Avenida Mister Hull, o local, que inicialmente seria utilizado para parada de vans, passou a ser usado também por ônibus.

A parada no meio do caminho estava prejudicando o novo terminal rodoviário construído pela Socicam, um dos fatores que estaria afastando os usuários, segundo pesquisas, foi a cobrança da taxa de embarque. O local passou a ser ponto das “topiques” irregulares que cobravam uma tarifa inferior ao ônibus.

Mais tarde, o transporte alternativo complementar foi regularizado pelo antigo DERT, mas a parada sob o viaduto não deixou de existir. Vários ambulantes se instalaram no local. Em 2008, o Distrito de Meio Ambiente da Prefeitura de Fortaleza, realizou a retirada dos ambulantes da “mini rodoviária”, porém, voltaram logo em seguida. 
Fonte de pesquisa: BD Cepimar/ Jornal O Povo

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