segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

PA: Em Belém, usuário de ônibus pena...


Assim que o ônibus é avistado, os braços começam a sacudir insistentemente. A preocupação em perder a condução que passa pela parada de ônibus pela faixa de trás leva os passageiros para o meio da pista. Mas nada resolve. O olhar de quem fica na parada segue distante na direção do ônibus como se não acreditasse. “Ainda tenho que arrumar as minhas malas que vou viajar daqui a pouco!” 

O desabafo é da estudante Amanda Melo. Anteontem, um dia após a rejeição pela Câmara Municipal de Belém (CMB) do projeto de lei que previa o pagamento de multa pelos ônibus que ‘queimassem’ paradas, ela vivenciou a infração de um motorista que se recusou a parar. “Eu me sinto muito frustrada quando isso acontece. Eu estou atrasada, ele não parou, e agora eu vou ter que esperar trinta minutos pelo próximo ônibus.” 

Passados 15 minutos, na mesma parada, na avenida Boulevard Castilhos França, em frente ao Ver-o-Peso, Kelly Gomes leva as mãos à cabeça por causa do ônibus que não atendeu ao seu chamado. “Viu que ele (motorista) nem olhou?” 

Com a mãe idosa, Kelly demonstrava indignação pela precariedade na prestação do serviço. “Isso é uma falta de respeito... eles não param, principalmente quando tem um idoso. Tinha mesmo é que multar esse pessoal”. A pressa para pegar o próximo ônibus que apareceu em seguida impediu que a idosa expressasse a sensação de ser deixada para trás pelo serviço de transporte público. “Tô com pressa, não posso perder mais esse (ônibus)”. 

E a pressa é companhia de grande parte dos usuários do transporte público na capital paraense. Na iminência da chegada do ônibus aguardado, a calmaria da espera se transforma em agonia. Competindo com os carros, homens e mulheres vão até os ônibus no meio da pista. “Aqui é bem difícil, eles passam por trás e, pra não perder o ônibus, tem que ir lá no meio”, diz a aposentada Fátima Ribeiro, que também é portadora de necessidades especiais. “Tem vezes que nem assim eles param. Eles passam por trás, a gente faz sinal, bate no lado do ônibus e eles não param”. 

Ex-rodoviário desde o ano de 1982, hoje o aposentado José Carvalho sofre com a indiferença de alguns motoristas que passam por ele, sem parar. Aos 80 anos, ele já perdeu as contas de quantas vezes fez sinal para o transporte e não foi atendido. “Eles são danados pra fazer isso aqui. Passam direto e nem querem saber”, afirma ele que, apesar de conviver com o problema diariamente, não teve conhecimento da votação do projeto que previa o pagamento de multa para esse tipo de prática. “Eu vou anotar esses negócios num papel e vou levar lá na CTBel (Companhia de Transportes do Município de Belém), mas multa não ia resolver mesmo. Tem é que botar ônibus que rode bacana com a gente e não os que deixam a gente na rua”. 

Para o aposentado, os problemas enfrentados hoje pelos motoristas de ônibus no trânsito são diferentes, o que facilitaria a infração por parte dos condutores do transporte coletivo. “Na nossa época não tinha essa de queimar parada, mas também não tinha essas vans que não deixam o pessoal parar”. 

A parada dos alternativos no mesmo local estipulado para a parada dos ônibus é destacada como um dos principais problemas também pelos motoristas que os conduzem. Há dois anos e meio na profissão, o rodoviário Cristiano Ferreira se diz prejudicado com as vans que passam muito tempo nas paradas. “Como eles não têm horário pra cumprir, ficam parados aí até o cobrador convencer o passageiro a entrar”, destaca. “Quase todas as paradas da avenida Augusto Montenegro têm essas vans que atrapalham muito”. 

Além desse problema, o tempo estipulado para que os motoristas façam o percurso da linha também é lembrado pelo motorista. “A gente tem hora pra cumprir. Tenho que fazer Outeiro/São Brás em 2h20”. O motorista Raivlan Moraes também destaca a questão do horário: “Como parar com essas kombis? O tempo é curto e elas ficam no caminho um tempão. Preciso ir, estou atrasado”.
Fonte: Diário do Pará

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