terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Linhas rodoviárias serão licitadas e passagens devem ficar até 10% mais baratas


Frota mais nova e confortável, passagem mais barata e número maior de trechos. A licitação do transporte rodoviário interestadual que deve ser publicada em abril pinta um modelo revigorado das viagens de ônibus Brasil afora. Na tentativa de conter a expansão do setor aéreo, que, nos últimos anos, vem sufocando a indústria rodoviária, com mais de duas décadas de atraso, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) prevê mudanças robustas no principal modal do país, que somente até setembro do ano passado transportou mais de 116 milhões de passageiros. Com as modificações previstas, os principais percursos originados na capital mineira podem ter redução de 10,2% ainda este ano. 
Em Minas, no comparativo entre os três primeiros trimestres dos dois últimos anos, segundo a ANTT, houve redução do número de passageiros de 2,49%. Enquanto de janeiro a setembro de 2010 foram transportados 15,33 milhões de pessoas, no mesmo período do ano seguinte o total caiu para 14,95 milhões. Não é apenas de uma freada de um ano para o outro. De 2005 até 2010 (os dados de 2011 ainda não foram fechados), o número de embarques e desembarques nas rodoviárias mineiras retraiu 8,49%. A modificação é reflexo do barateamento das passagens aéreas e também das condições do serviço prestado pelas empresas de ônibus, que, para piorar, ainda têm estradas ruins pela frente. 

Valores 
Mas, de acordo com o que está previsto no edital do Projeto da Rede Nacional de Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional de Passageiros (ProPassBrasil), novas regras devem modificar bruscamente esse cenário. A principal medida deve ser sentida no bolso dos passageiros. A mudança no coeficiente que calcula o preço das passagens foi modificado e estudo da ANTT mostra que 84% das pessoas transportadas devem ter o valor da tarifa reduzida. 
É o caso do trecho com maior demanda em Minas (BH-Rio). Para os 511 mil passageiros que usam o trecho anualmente, o custo da passagem deve cair de R$ 54,06 para R$ 48,55 – o valor não considera o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); pedágios e taxa de embarque. A viagem de Belo Horizonte para São Paulo deve ter redução semelhante, caindo de R$ 72,41 para R$ 65,03. “O aéreo cresce, mas o terrestre também. O setor rodoviário mantém sua clientela, mas uma rota pode sentir mais que a outra”, afirma a superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Haddad, que ontem numa audiência pública em Belo Horizonte, discutiu os últimos detalhes do edital. 

O edital do transporte público interestadual é uma premissa considerada ainda na Constituição de 1988. Mas, de lá para cá, o governo federal adiou o que deveria ser obrigatório por causa das reclamações oriundas do setor de transporte. As maiores empresas criticam o modelo por serem obrigadas a assumir percursos pouco rentáveis. Isso porque, os 60 lotes que compõem o edital mesclam trechos muito lucrativos, como BH-Rio, e outros bem menos interessantes. 
Insatisfação a bordo 
Anualmente, os irmãos Maria Akemi e Ivan Akira cruzam cinco estados para passar férias com os parentes em Alfenas, no Sul de Minas. De Petrolina, no interior de Pernambuco, até o Terminal Governador Israel Pinheiro, em Belo Horizonte, os estudantes enfrentam mais de 30 horas de viagem. Mas não é sempre que o tempo previsto na passagem se confirma. É comum a quebra do ônibus. Numa certa ocasião, o veículo apresentou problema por três vezes e, além do medo, eles tiveram que acrescentar umas boas horas na viagem. “E tem mais: O banheiro é insuportável e a segurança não é nada boa. Uns ônibus fazem um barulho excessivo e têm pneu careca”, afirma Maria. 

Mas, segundo as novas regras do transporte interestadual, a data de fabricação de cada veículo não pode ultrapassar 10 anos e a média da frota deve ser de cinco anos. Além disso, devem ser instalados sistemas de monitoramento das viagens, o que deve permitir fiscalizar velocidade, percurso e número de passageiros, garantindo melhorias no serviço. Na lista de melhorias, por Minas devem passar 18 linhas novas, o que garante maior capilaridade do transporte. No entanto, ainda assim, menos de 40% do total de cidades terá viagens interestaduais. Assim, em alguns casos, será preciso o passageiro seguir para uma cidade maior para na sequência seguir para outro estado.
Entre os novos percursos mais demandados estão Uberlândia-Campinas e Belo Horizonte-Volta Redonda. Essas rotas devem suprir os problemas de infraestrutura dos aeroportos de menor porte, absorvendo parte desses passageiros. “Estamos entre a cruz e a espada. De um lado, temos o inconveniente das estradas e dos ônibus, enquanto, do outro o problema é a infraestrutura dos terminais aéreos. É arriscado viajar para São João del-Rei e Governador Valadares, por exemplo. Se chove um pouquinho, não é possível decolar”, afirma o advogado Leandro Amaral Andrade. 
Fonte: Estado de Minas

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